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Acabei de ler o livro Nas Minhas Mãos, a Morte. Este é o primeiro livro de Anabela Lopes publicado na coleção Eu ❤️ Autores Portugueses da editora Saída de Emergência, que aposta na visibilidade de novos talentos nacionais. A autora já tinha publicado obras infantojuvenis e de fantasia, mas este é um passo arrojado no género de thriller psicológico para adultos.
Comprei este livro num impulso consumista, em março de 2024. Tinha recebido, pela primeira vez, um cartão da Fnac com um valor substancial e fiz o meu primeiro grande haul de livros — na realidade, foram quatro 🫣😅, mas acho que nunca tinha comprado tantos de uma só vez. Portanto, esteve um ano lá em casa a ganhar pó. Achei a capa maravilhosa e a premissa interessante. Mas, até hoje, nunca tinha visto ninguém a falar dele — se calhar por isso não lhe peguei antes. No entanto, como já tinha terminado os livros planeados para este mês e estava à espera da chegada do novo livro da Maria Francisca Gama (curiosamente, quando comprei este da Anabela, também comprei Cicatriz, da Maria 🤗), e como este era relativamente pequeno, decidi dar-lhe uma oportunidade.
E devo dizer que me surpreendeu muito pela positiva — que grande twist no final! 😉
A narrativa gira em torno de Tomás, um jovem cuja infância é marcada por traumas profundos: um pai violento e alcoólico, uma mãe submissa e emocionalmente ausente, e o isolamento social reforçado pelo bullying escolar. Este cenário de opressão constante conduz Tomás a um ponto de rutura — e é nesse momento que desperta um poder mental insólito, quase sobrenatural.
O thriller psicológico intensifica-se quando Tomás começa a usar esse poder para “limpar” do seu caminho aqueles que lhe causam sofrimento. Ao início, são actos de defesa mas a linha entre justiça e vingança começa a esbater-se. A sua habilidade transforma-se num vício, numa arma silenciosa e impiedosa.
Contudo, tudo muda com o aparecimento de uma carta misteriosa, que ameaça não só revelar o seu segredo, mas também pôr em causa a imagem que construiu de si próprio como um “justiceiro”.
Este livro aborda alguns temas interessantes como o abuso familiar e o trauma infantil, mostrando-nos como experiências traumáticas moldam a nossa psique; a dualidade entre justiça e vingança, fazendo-nos questionar os limites da moralidade; o poder e a responsabilidade — um tema clássico, mas aqui com uma abordagem mais sombria — e, por fim, a solidão e marginalização: Tomás é um espelho da dor invisível de muitos adolescentes.
Anabela Lopes escreve de forma direta e visual, focando-se na carga emocional e psicológica das personagens, e o facto de ser narrado na primeira pessoa ajuda bastante nesse sentido. O livro mistura o ritmo rápido do thriller com introspeção profunda, mantendo-nos envolvidos tanto pelo enredo como pela evolução interna do Tomás.
A autora também evita clichés fáceis, trazendo um realismo sombrio que humaniza o protagonista — não é herói nem vilão, mas uma vítima que se torna algo mais complexo e perturbador. E, nesse sentido, deu-me muito as vibes de Dexter (a série de TV), pela noção de "justiceiro invisível" com um código moral próprio.
É daqueles livros que começa de forma discreta, mas vai crescendo em intensidade e prende-te até à última página.
Para quem aprecia thrillers psicológicos com uma abordagem diferente e um final que nos faz repensar toda a história, Nas Minhas Mãos, a Morte é uma aposta certeira. Não é apenas mais um thriller — é um mergulho sombrio na mente humana.
A Leitora